Posts Tagged ‘mar’

seis e oito

agosto 15, 2010

É tarde da noite e de repente ele começa:
Brinca de pique se esconde entre as nuvens,
Brinca de se esconder no horizonte,
Brinca como quem prega uma peça.

As luzes do espetáculo anterior ainda não se apagaram.
Mas lá vem ele… chega de mansinho, dá um beijo antes dela sair.
Ela compreende que agora o espetáculo é dele, respeita, fica de lado, se ofusca e deixa-o reinar.

Ele aproveita: vem com tudo, aquela energia de sobra.
Em poucos minutos surpreende, surge na linha do horizonte.

O horizonte parece sustentá-lo em sua grandiosidade.
Ah… O horizonte!
É forte, é ponte, é rio, é mar, é caminho para quem deseja atravessá-lo.
Dizem que para além dele existe um lugar bonito e tranquilo pra gente se amar.
Olho-o e imagino isto.
Olho e nos imagino.

De que vale o paraíso sem amor?
Me desloco para o além-mar.
Me desloco para a beira de um rio.
Um rio-mar.
Um rio de amar.
Um amor de rio.
Um suspiro de amar.
Um riso no ar.
Um sorriso pra olhar.

Surge um novo alguém.
Chega, se aproxima como quem não quer nada.
Quer sim. E só de ver, também quis.
Quis deixar as lembranças no quarto das lembranças.
Quis viver um pouco aqui.
Qualquer lugar é lugar, qualquer hora é hora,
Porque há mistérios. E sempre irão nos atormentar.

Tormenta boa, onda que bate na areia, onda que molha os pés, onda de mar.
Deixo a onda bater.
Não sei de onde vem e pra onde quer me levar.
Não quero saber.
Viver é saber a hora de guiar e a hora de si, fechar os olhos.
Viver é se permitir. E eu me permito a tudo que vem do mar.

A água e sua força e seu poder e seu gosto e sua espuma e seu movimento…
Vem e me lava e me leva e me esfrega na areia até eu sentir falta de ar.
Só pra depois vir com tudo, respirando mais fundo, alívio depois do apuro, sabor de vida que vem do mar.

É hora de respirar.
Tempo de tempo, tempo de silêncio, tempo de beira de rio, tempo de beira de mar, tempo que beira amar.
Tempo tempo tempo a me traçar.
Tempo pro sol. Tempo pra lua. Tempo pra mim. Tempo.

sol - por Stefânia Masotti

Flor de Tinta Fresca

janeiro 28, 2010

eu vou mandar fazer uma flor com o nosso DNA
vai ser da cor dos sonhos – que nos levam,
com cheiro das nossas peles – que gritam
e frutos do nosso sexo – que acalma.

para a mistura:
um pedaço seu em mim
e um pedaço meu em ti
multiplicados com uma pitada da nossa saliva.

instruções:
germinar ao sol do amanhecer,
expor à lua quando nasce.

plantar em terra de mangue
com água de mar um dia, água de rio noutro
e pororoca aos finais de semana.

quando brotar a primeira flor,
deixar que se desmanche
e volte à terra como cinzas do nosso amor.

as seguintes, que se espalhe
com aquele vento florescente da primavera.

e no outro ano,
quando nosso amor já for outro,
que cada um plante uma nova flor
com DNA de bioarte
que se renova a cada oxigênio de tinta fresca.

(inspirado na obra “Edunia” de Eduardo Kac)

vá a praia!

janeiro 12, 2010

vai à praia
se queima
fica toda vermelha
mas não mergulha na água
(hora poluição,
hora correnteza).

mas vá à praia
beba água no coco
sente na areia
sente a areia
pequenos farelos
que grudam
que fazem castelo.

esqueça a poluição,
deixa a maré te levar,
deixa o calor bater.
sinta a água gelada
não fique com medo,
acostuma e passa.
onda vem, distrai e salva.

venha pra praia
veja o sol nascendo
pessoas caminhando
pessoas nadando
pessoas com preguiça
sorriso-choro-silêncio-euforia.

vamos pra praia
paraíso da diversidade
e ninguém liga.

belo horizonte

julho 9, 2009
visão por Stefânia Masotti

visão por Stefânia Masotti

é belo o horizonte
de pedras, de mar, de montanhas
de beira de estrada, de beira de praia, de beira de varanda.

é belo o horizonte
do olhar da pessoa amada
do olhar do malabarista
do olhar do mestre.

é belo o horizonte
da esperança
da pedra que acabou de ser jogada
do passado presente agora.

mar céu

junho 27, 2009
foto por Stefânia Masotti

foto por Stefânia Masotti

hoje o céu se abriu em mar pra mim.
hoje o mar trouxe o céu pra me fazer companhia.
hoje eu entrei no mar pra renovar minhas energias.
hoje eu fui ao céu do além-mar pra me buscar e voltei com poesia.
hoje o mar cantou e fez o céu se abrir, a chuva passar, pra raiar um novo dia.

menina da água

março 1, 2009
Foto de Dae Mon

Foto de Dae Mon

o rio veio e transbordou
eu fui pra beira e ele me puxou
me levou em seus braços,
me envolveu com seus encantos.

o rio veio e transbordou
eu fui sem esperar e ele me acertou
me fez mudar de rumo
me fez mudar de planos.

o rio veio e transbordou
eu fui pra curar o passado e ele me presenteou
me trouxe esperança de futuro
me trouxe esperança de outro mundo.

o rio veio e transbordou
eu só procurava um pouco de paz
eu estava em paz
mas ele me puxou.

o rio veio e transbordou
eu era pura vontade, eu era pura emoção.
me fez perder o norte,
pra me ensinar uma nova canção.

o rio veio e me transbordou.
água de rio quando invade, não tem correnteza de mar que segure.
olhos serenos quando se abrem, não tem coração que não se ilude.

o rio veio e me transbordou
eu era só intensidade, eu era só um furacão.
água de mar quando invade, traz maremoto e faz trovão.

o rio veio e me transbordou
mas a onda do rio é diferente, e eu não sabia
mas em onda de rio não dá pra pegar jacarézinho, e eu insistia.

o mar veio e me transbordou
maré que leva, maré que traz
a pororoca só anda porque o mar vem atrás.

o mar veio e me transbordou
veio onda, veio sal, veio água-viva e me queimou.

o mar veio e me transbordou
o mar machuca, mas cicatriza.
inspira, alivia, horizonte, acima.

o mar veio e me transbordou
onda de rio quando vem, cerca.
onda de mar quando bate, leva.

o mar veio e me transbordou
a sua linha infinita me liberta
seu vento me assopra
e seu cheiro me tempera.

o mar veio e me transbordou
sal me salva, tenho pressão baixa.
água fria me refresca, me livra do inferno em que estava.
areia me invade, penetra e tira tudo o que restava.

SÊLÁ

novembro 15, 2008
Créditos não encontrados.

Créditos não encontrados.

Ela é uma avenida,
que arrasta,
que rasga,
que desatina.

Ela é uma loira,
não arrasta quarteirão,
não cabe num refrão,
mas brinca de forca.

Ela é um corpo,
que tem barriguinha,
que tem covinha,
e não cabe num copo.

Ela é uma cidade,
com praia,
com praça,
com saudade.

Ela é um país,
com contradições,
com religiões,
com raiz.

Ela é um peixe,
que flutua,
que muda,
que tem sede.

Ela é um mar,
que bate,
que esfalfe,
que não existe sem o a.

Ela é vento,
que perturba,
que bagunça,
intenso.